7.2.07

Número 201

PARIS, LIBERDADE E IGUALDADE

Saiu no jornal: o Judiciário norte-americano condenou a milionária socialite Paris Hilton a três anos de liberdade vigiada. A sentença é devida ao crime de dirigir alcoolizada. Quem sou eu para divergir da justiça, mas, na total ignorância, percebi duas incoerências estranhas na punição da jovem perua: primeiro, ou a tal Paris não era livre, ou antes era dispensada de vigilância (um preceito quase divino). Por fim, como alguém que capitaliza sua celebração mundial ao ser perseguida de perto -- dia e noite -- por um batalhão de paparazzi só agora, depois da sentença, será vigiada? Ela já não era extremamente vigiada antes?

Minha vida não é muito diferente da vida do leitor: sou um eterno condenado à liberdade vigiada. Quando era pequeno, quem me vigiava era a mãe e o pai. As irmãs mais velhas eram outras a vigiar um pouco, outro tanto os adultos responsáveis que me rodeavam. Mais tarde, taludinho, também passei a ser vigiado por professores, diretores e "xerifes" da escola. Na medida em que o tempo foi passando, a vigilância sobre mim -- um inofensivo rapaz latino-americano sem parentes importantes -- ganhou o reforço das Polícias Militar, Civil e Federal, do Tesouro Nacional, dos Fiscais de Trânsito e das demais autoridades constituídas. Nas poucas vezes em que saí do Brasil, os funcionários da Alfândega e da Imigração deixaram claras as suas intenções de vigia. Feliz era a Paris: só agora foi condenada à pena que me acompanha de forma perpétua. Ela, só por três anos, é claro.

Estou exagerando? Os cinco "pardais" que separam a minha casa do centro de Porto Alegre dizem que não. As blitzes constantes nas quais sou convidado a mostrar meus documentos e os do carro também confirmam a tese. Sem falar que, como todos, nem ouso deixar de me comunicar com o pessoal do Imposto de Renda dentro do prazo, bem comportadinho. Se eu me esquecer de pagar por um produto em uma loja do shopping, duvido que a vigilância local vá relevar apenas por meus olhos claros. Até mesmo a esposa, nada ciumenta, gosta de saber por onde ando (um saudável cuidado que igualmente mantenho com relação a ela, sem pressão). Enfim, liberdade vigiada é uma condição da vida em sociedade. Talvez não na hight socite...

Por outro lado, vamos analisar o mundo das celebridades: serão livres os famosos? A resposta pode ser um nada esclarecedor "depende". No meu caso, garanto, ninguém cutuca o companheiro na rua apontando em minha direção para dizer "olha, olha: é o Rubem ali!". Também não soube de fotógrafos e cineastas amadores registrando algum beijo mais ardente, uma gafe durante um show ou o fato de estar na companhia de outra mulher que não a minha, tomando um sossegado cafezinho. A Paris e seus pares (com o perdão do trocadilho) não gozam desta liberdade típica dos anônimos. Logo, o Juiz só fez chover no molhado ao condenar a moça à liberdade vigiada. Suponho que, quando a loura se virou para o advogado e perguntou que diabos de sentença era aquela, o profissional deve ter dito: estás condenada a ser Paris Hilton por três anos. Só resta saber se ela entende ironia.

Admito desconhecer os meandros das leis do povo americano do norte. Vai ver que eles costumam sempre aplicar um "dou-lhe uma!" legal diante de crimes mais brandos, ou de criminosos de costas mais largas. Quem sabe com um caráter educativo... Ou talvez a Paris seja mesmo uma espécie de rainha ou deusa que, só agora, e por suaves três anos, será submetida à vigilância das instituições, postadas lado a lado com os fotógrafos. Por uma questão de igualdade, o método até seria bacana de ser aplicado no Brasil, especialmente na Capital Federal: com tanta competência quanto os fotógrafos que assediam a Dona Marisa Letícia (antes era a Dona Ruth), representantes legais do povo vigiariam Lula, zelando por nossos interesses. Ah, como fui esquecer, isso já acontece: é um dos preceitos do Poder Legislativo. O que, diante da qualidade parlamentar, não é nenhum alívio.

2 comentários:

Unknown disse...

Dependendo de quanto pagam posso eu fazer o serviço de vigilância...

Rubem Penz disse...

José Roberto, será que não farias o serviço até desembolsando algum, desde que o valor seja módico?

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