9.3.07

205

OLFATO

Listas, sejam quais forem, serão sempre diferentes de pessoa para pessoa. Mesmo assim, me proponho a apresentar uma pequena compilação de aromas que considero especiais. Odores que trazem lembranças, prazer, ou que ligam alguma coisa em mim. Um ou outro pode vir a coincidir com o manancial de recordações de quem lê – principalmente os campeões de audiência nos narizes da humanidade. Senão, vejamos.

CHEIRO DE CAFÉ PASSANDO. Um best seller. O perfume do café quase bate o seu sabor, de tão bom. Duvido até que os não tomadores desta infusão considerem o seu aroma desagradável. O cheiro de café tem o poder de nos fazer sentir em casa.

CHEIRO DE TERRA MOLHADA. Apresenta variações: grama molhada, terra sem vegetação molhada, areia molhada, até mesmo calçamento molhado. A chuva, além do seu perfume particular, tem o poder de alterar a paisagem olfativa do lugar. Uma delícia.

CHEIRO DE BRONZEADOR. Hoje, este produto é mais conhecido como PROTETOR SOLAR. Com um nome ou outro, seu perfume é, para mim, o cheiro do próprio sol. Ou do verão. Ou das férias. Enfim, de um conjunto harmônico formado por férias, verão e sol – ainda com uma pitada de infância. Em um dia frio e chuvoso de inverno, uma idéia é abrir uma embalagem de bronzeador para lembrar que o verão existe e logo virá – um elixir contra a depressão.

CHEIRO DE PIPOCA. Vocês já viram carrocinha de pipoca com um painel escrito "pipoca"? Ou propaganda de pipoca? Ou pipoqueiro gritando o nome do alimento para chamar a clientela? Não: isso é coisa de sorveteiro, que, mesmo com um bom produto, precisa colocar fotos coloridas, ter logotipo e corneta. A pipoca se vende sozinha. E o segredo é o maravilhoso aroma!

CHEIRO DO MAR. Demorou, mas cheguei em um não perfume. Afinal, a beira da praia é um lugar no qual vários corpos estão em decomposição. Logo, fedendo um pouco. Mesmo assim, o cheiro do mar me seduz e me balança. Vai explicar...

CHEIRO DE CARRO ZERO KM. Está aí um cheiro bem simbólico. Quase todo mundo gosta de cheiro de carro novo, ainda mais quando é o seu próprio carro novo. Pena que não dura para sempre... Neste quesito, também vale uma observação: não sei se são os carros que mudaram, ou mudou o meu nariz. Porém, em modelos do passado, o automóvel tinha um odor mais particular. Corcel tinha cheiro de Corcel, que era diferente do Opala, do Passat, do Chevette e assim por diante. Se me vendarem os olhos e me puserem dentro destes carros, saberei qual é qual. Nos modelos fabricados atualmente, não terei certeza. Isso é muito estranho.

CHEIRO DE FRANGO ASSADO (OU DE CHURRASQUINHO DE "GATO"). Que me perdoem os vegetarianos, mas a carne assando é de um perfume totalmente perturbador. Simplesmente fantástico e delicioso. E me abre o apetite na hora!

Para finalizar, vou citar dois cheiros que lembram meu pai, em sua homenagem no dia de hoje, seu primeiro aniversário de falecimento:

CHEIRO DE XAXIM. Muito mais marcante do que os incríveis perfumes de suas orquídeas, o cheiro do xaxim me traz a lembrança do pai. Quem sabe pelo motivo de ele ser um homem de trabalho, fazendo o cultivar se tornar ainda mais precioso do que o resultado final.

CHEIRO DE CACHIMBO. Não fumo, nem pretendo fazê-lo. Sequer aprecio o hábito. Mas se alguém estiver fumando um cachimbo a duas quadras distante, sentirei o perfume da fumaça, me fazendo lembrar do pai. Este vício não fez dele alguém mais saudável. Ao contrário. O problema é que não reconheço minha infância sem este aroma. No céu, com sorte, cachimbo não faz mal.

2 comentários:

Edgar Aristimunho disse...

Então, Rubem, você precia entrar numa daquelas velhas barbearias que encontramos no centro, em alguns bairros e cidades do interior. O cheiro das barbearias. Confira.

Rubem Penz disse...

Ed,

Cheiro de barbearia é realmente especial. Um cheiro masculino, de fato, e que remete a outros tempos. Interessante postares um comentário nesta crônica hoje, tão próximo ao aniversário de nascimento do meu pai - a quem dediquei a crônica. Que coisa!

Muito grato, um abraço,
Rubem

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