8.5.09

Número 316

ESPERANÇA

Abre teus braços e canta
A última esperança
A esperança divina de amar em paz

Tom e Vinícius

Se esperança tivesse uma forma, ela seria esférica. Pois assim, redonda, é a forma da mulher que espera um filho. E nenhum outro momento é tão rico em esperança quanto o da gestação. Ele permeia cada sorriso, sublima o desconforto, supera a dor prometida. Ele inunda o coração de modo a fazer passar por ali os melhores fluidos. Ele cativa quem está próximo, ou mesmo quem só passa ao largo. Na gravidez, a mulher espera para si, para o filho e para todos nós um futuro melhor. Espera, também, estar apta para nutrir a vida que se renova. Espera que o pai saiba compartilhar tamanha responsabilidade. Espera viver o suficiente para ver seu fruto tornar-se frondosa árvore. Espera alcançar os netos. Nossa: é esperança que não acaba mais!

Nenhuma mulher perde por esperar. O final de sua espera, ao contrário, coincide com o momento de se ganhar. É quando a felicidade não cabe mais em si: rompe, transborda, derrama-se. E, depois de deixar o ventre, é no seio materno que o filho se alimenta de esperança, de afeto e de vida. O colo da mãe é o endereço do encontro sublime de duas vidas que esperavam uma pela outra – uma dentro da outra –, para firmarem um contrato jamais escrito, mas implícito e reconhecido por suas normas, direitos e deveres. A sociedade espera que as partes cumpram seus papéis. Outra vez, ou seria sempre, é esperança que não encontra fim.

A cada manhã, toda mãe espera ver seu filho despertar. Viverá na esperança de que nada de mal lhe aconteça; de que, com o passar do tempo, caminhe com suas próprias pernas; de que tenha juízo e discernimento; de que encontre bons amigos para compartilhar a vida. Viverá na esperança de que pouco (ou nada) ele sofra por amor. Vã esperança... A mãe espera que o filho seja estudioso na medida de sua capacidade, seja humilde para reconhecer-se aprendiz, seja perseverante e, com isso tudo, possa ter o êxito almejado. Pois o fracasso do filho será também o seu fracasso, sua desesperança.

No entardecer da vida, a mãe espera ter o filho ainda à sua volta. Contará os dias até o final de semana; ou as férias, Natal, Ano Novo. Contará também as novidades adiante e, quando menos o filho esperar, conhecidos distantes saberão detalhes de sua vida. Emoldurará fotografias em portarretratos coloridos, expostos na sala de estar para louvar a certeza de ter oferecido a melhor educação. Escondidas, bem escondidas nas gavetas da cômoda, ficarão algumas desconfianças sobre eventuais falhas aqui ou ali. E a mãe morrerá na esperança de que nada disso seja encontrado por noras e genros de má vontade, loucos para se depararem com explicações, por exemplo, para as manias do cônjuge à mesa. Mesmo na hora da partida, na memória da mãe habitará a esperança.

Faça qualquer maldade com sua mãe. Faça-a sofrer, deixe-a com saudade, ria de seu jeito antiquado, seja presunçoso ou soberbo. Até aplique corretivos, se ela voltar a ser uma criança. É grande a chance de ser perdoado bem no fundo do coração. Pior: ela tomará para si a culpa de, quem sabe, ser justamente punida e maltratada. Só um pecado jamais terá perdão: tirar de sua mãe a esperança. Não imagino ter sido outro o erro do rapaz que, conforme notícia recente, viciado em crack, levou a mãe ao desespero de matá-lo.

Morta a esperança, já não temos mais uma mãe. Já não temos mais nada. E, no vácuo e na vertigem do nada, que vida haverá?

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