30.11.12

Número 501

Rufar 501: Beckers Likör, para dar água na boca!
Assinem e companhem no novo endereço:
Bom final de semana, abraços, Rubem


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28.11.12

Coluna do Metro em 28.11.2012

Caro seguidor do Rufar,

Para ficar mais bacana, mais completo, estou migrando as publicações para o site www.rubempenz.net e, num só lugar, concentrar minha vida na web.

Leia a crônica de hoje no link a seguir e, para conceder-me a honra de sua companhia, torne-se meu seguidor cadastrando o e-mail no site.

Abraços, grato, Rubem

http://rubempenz.net/a-infalivel-teoria-do-dobro/

23.11.12

Número 500

Gente,

Com muita alegria noticio que o Rufar dos Tambores 500 inaugura uma nova fase.

Agora ele está hospedado no site .net, onde concentrarei todas as ações - inclusive a de mandar este aviso de nova crônica.

Leia o texto de hoje "Virando a página" em http://rubempenz.net/virando-a-pagina/ 

Aos poucos convidarei a todos para aceitarem a assinatura por lá. Quem desejar, já pode fazê-lo em NEWSLETTER RSS, à esquerda do texto, informando seu e-mail.

Muito grato aos que me acompanham nessas cinco centenas de perseverantes crônicas.

Abraços, bom final de semana,
Rubem

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21.11.12

Coluna do Metro Porto Alegre em 21.11.2012



VIVEMOS NOVOS TEMPOS
Quando liguei para o meu amigo, descobri que ele estava com outra. Mas nem era a primeira ou segunda vez que trocava. Camarada incorrigível.
– Qual o problema? Bem vindo aos novos tempos! Vai me dizer que nunca trocou?
Respondi que não, nunca trocara. Era a primeira e a única desde sempre e, mesmo sofrendo constante assédio, nunca pensara em deixá-la. O nome disso é fidelidade, eu disse. Olha o meu pai: uma até que a morte os separou. Do outro lado da linha ele riu.
– O nome disso é burrice! Você não é fiel, é otário. Um acomodado. Eu conheço todas elas muito bem: gostam mesmo de gente assim. Duvidê-o-dó que a ela faça por ti mais do que as outras vão fazer...
Não era uma questão de mais ou de menos, argumentei. Na realidade, não nutria a menor esperança: no começo, todas parecem ótimas, solícitas, cheias de promessas. Passa um ano ou dois e se tornam muito iguais. Quem vive trocando deveria saber disso melhor do que eu.
– Então? Quer motivo melhor para pular fora rapidinho? Fico só o tempo do bem bom, enquanto eu pareço um troféu, uma conquista. Vivo o momento, sou o máximo!
Troféu coisíssima nenhuma! Mas ele gostava mesmo de se iludir. Não se dava conta de que elas só ligavam para ele quando estava com outra. Depois de conquistá-lo, transformava-se, ele sim (não elas), em apenas mais um. E nem dos melhores. Rola quase um desprezo, eu disse.
– Esqueceu que já andei com a tua, e que fui eu quem a deixou, sabichão?
Pegou pesado, chegamos ao limite. Ninguém mudaria de opinião. Fiel ou acomodado, continuo com a mesma operadora de telefonia celular. Esperto ou iludido, ele continuará trocando. Desliguei.

16.11.12

De volta

Número 499

Rubem Penz

– "Esse foi um caminho sem volta." Sabe quantas vezes ouvi essa expressão? Incontáveis. Já me perguntaram antes: e aí, tem volta? Ora respondi que não, ora que sim – por ter sido trilhado, todo caminho de vida, na teoria, tem volta. O que falta, talvez, seja vontade de voltar. Ou tempo. Ou coragem. Ou esperança. Ou tudo isso. É preciso um motivo muito forte para se pensar em marcha a ré. Pare de rir, estou falando sério, Dolores! Por exemplo, voltar para cumprir o mesmo percurso soa insensato e, talvez, seja mesmo. No retorno, o que está em jogo não é o passado, e sim o futuro. Retroceder é outra forma de avançar, ainda que em sentido oposto. Sacou? Ir até determinado ponto no qual seja possível encontrar novos caminhos se justifica. Eis o problema: esses "novos" caminhos serão trilhas outrora possíveis e não escolhidas. Isso é tenso. Não me interrompa, não terminei... Voltar para resgatar alguém que ficara para trás também parece delirante. A única certeza para quem retorna por alguém é não encontrá-la mais no ponto da separação. Na melhor das hipóteses, uma ou outra pista indicará seu novo deslocamento, certamente diferente do que se supunha. Depois, restaria a dúvida, de parte a parte, sobre a vontade de seguirem juntos outra vez, e em qual direção. Assim, parece que, na maior parte das ocasiões, o mais correto é seguir em frente. Como diz o ditado, Deus escreve certo por linhas tortas e, nas curvas de adiante, sempre haverá a chance de encontrarmos o destino que julgávamos abandonado. Ou a pessoa que ficara para trás. Ou a que correra na frente. Quem sabe tudo isso pode estar bem na sua frente, no exato momento que duvidávamos possível! Entendeu? Novo e velho organizados em um só tempo – o presente. Conclusão: adiante, para trás ou em curva, o essencial é jamais pararmos! Não, não! Não feche a porta, mudei de ideia, mudei de ideia: paradas estratégicas podem salvar nossa vida. São perfeitas para recuperar o fôlego, ordenar os pensamentos, consultar o coração. Não deixam as decisões serem tomadas de cabeça quente. Permitem a reflexão sobre o que passamos, a mensuração da distância percorrida, a calma de um olhar para o horizonte. Por falar em horizonte, veja agora, Dolores, que lindo nascer do sol!

– Adamastor, Adamastor, Adamastor. Estou emocionada, querido. Aliás, seu discurso teria funcionado, com certeza... Anteontem. Agora, some da minha frente!


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14.11.12

Coluna do Metro Porto Alegre em 14.11.2012


NÃO É UM BOM COMEÇO
Velhos manuais de marketing, escritos antes mesmo de o termo virar moda, apregoavam que a venda começa quando o cliente diz não. Sem a negativa, o nome para essa troca de valores por objetos e/ou serviços seria, no máximo, compra. Venda, jamais. Ao final, o resultado pode até ser parecido. Porém, apenas no sim, ambos saem perdendo: cliente sem chance de barganhar ou conhecer outras opções, ao vendedor é sonegada a oportunidade de aprimorar-se com vistas para a próxima transação.
Acontece algo muito parecido dentro dos nossos lares. Educar um filho começa tão somente quando os pais dizem não. Sem a negativa, o nome para essa troca de afetos pode ser qualquer um que se resolva dar: liberdade, direito, prêmio. Para piorar, o resultado também pode soar parecido. Porém, ambos saem da interação sem nenhum aprendizado: à criança é sonegada a chance de lidar desde tenra idade com a noção de limite, enquanto os pais perdem a oportunidade de transmitir valores.
É sempre junto ao universo daquilo que não podemos que estará contido o que podemos; junto do que não devemos que estará o que devemos; do que não precisamos aquilo que precisamos. Tão necessárias quanto as possibilidades são as impossibilidades. Talvez até mais. São os limites que nos moldam e, mesmo para rompê-los, é preciso reconhecer sua existência – ultrapassar o quê, se nada me baliza?
Apesar de sua fama negativa, por assim dizer, o não é a palavra que mais protege. É o termo preferido de nossa consciência, ela que existe para discernir entre o certo e o errado. O não, assim como a dor, são heróis incompreendidos que nos salvam de nós mesmos. O sim, tão belo (tão necessário), desconhece o perigo. Nunca mede as consequências de seu poder.
Tenho filhos e amo seus sorrisos diante dos meus sins. Contudo, sem o interdito firme e repetido, o aprendizado deixaria de acontecer. E, sem ele (sem a transmissão de valores), sei que terão dúvida na hora de dizer não ao que a vida oferece – vendedora às vezes inescrupulosa. Uns ficarão sem conhecer todas as opções, a outra sem a necessidade de aprimorar-se.


9.11.12

De perto


Número 498
Rubem Penz
E a vida o que é?
Diga lá meu irmão
Gonzaguinha
O teórico Antonio Cândido analisando a crônica – gênero literário que está diante de seus olhos – festeja o fato de ela ter um status menor. Chega a afirmar que jamais teremos um Nobel cronista, o que, de fato, a história apenas confirma. Lá pelas tantas, cita que essa característica é muito útil: “E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura.”
Pois hoje, repousando os pés no chão depois de sorver a enorme celebração que foi o lançamento da antologia Santa Sede – crônicas de botequim, Safra 2012 (Ed. Literalis), posso afirmar que a inversão do raciocínio também é uma oração verdadeira: a crônica para muitos pode servir de caminho não apenas para a literatura, que ela serve de perto, mas para a vida.
A participação de pessoas com diversas ocupações laborais em oficinas literárias faz surgir, no mínimo, leitores mais qualificados – fato que ninguém contesta. Afinal, trilhar caminhos que nossos melhores escritores já passaram, e estar defrontado com a tarefa de percorrê-los a partir da própria elaboração, desenvolve a capacidade de ler os textos em sua estrutura, desvendando aos poucos as estratégias que muito nos encantam. Mas, boas experiências levam ainda mais adiante.
O patamar seguinte é o de reconhecer-se capaz de produzir literatura, boa literatura, perseguindo o brilho dos grandes astros. Encontrar a voz mais confortável e estendê-la aos limites da criação sem perder-se na pauta. Conhecer a voz do outro e aceitar as diferenças com naturalidade. Mais: maravilhar-se com a diversidade de interpretações sobre um mesmo tema lendo-a como diferente, não melhor ou pior. Apenas outra.
Alcançar esses dois estágios – qualificar a leitura e capacitar a composição – é um bom destino para toda oficina literária. Agora, o caráter confessional e o grau de exposição inerentes à crônica, quando a turma conquista um patamar de confiança mútua, nos faz passar para adiante dessa fronteira. E a Santa Sede tem chegado lá.
Ao cabo de seu terceiro ano, no adeus à terceira turma, depois de estarmos tão perto uns dos outros, afirmo sem medo: concluímos a passagem pela mesa de boteco, além de melhores escritores, pessoas melhores. Sou grato por terem me dito em palavras e gestos, afinal, o que é a vida. Isso é a vida.

7.11.12

Coluna do Metro Porto Alegre 07.11.2012


CIDADE DO BONDINHO ERRADO
O Bondinho do Pão de Açúcar completou 100 anos com festa. Cartão postal do Rio de Janeiro, o simpático teleférico é passeio obrigatório para turistas. Tornou-se parte indissociável da paisagem urbana e marca registrada carioca. Agora, vamos imaginar a hipótese de alguém propor um bondinho nos mesmos moldes na também linda Porto Alegre.
O primeiro impasse seria escolher, entre nossos morros, onde. Por aqui, incrível, já houve abaixo-assinado repelindo a casa de nossa Orquestra Sinfônica e, depois, entraves para “salvar” uma área abandonada de aterro, quase inviabilizando o Teatro da OSPA. Isso indica nossa dificuldade em avizinhar qualquer equipamento da cidade. Enfim, acordado um ponto, tudo estaria resolvido. Será?
Talvez não: chegaria a vez de os ecologistas protestarem contra o suposto abalo ambiental do bondinho de Porto Alegre. Tiraria o sossego de bugios, lagartos, tatus, pássaros e outros animais em seu habitat. Ocupação clandestina e desordenada pode (quer dizer, não pode, mas acontece). Teleférico, não. Mas, imaginemos: os relatórios de impacto ambiental são aprovados. Tudo resolvido. Será?
Talvez não: faltaria definir o modelo de exploração do bondinho. Se privado, é um escândalo – onde já se viu lucrar com a paisagem? Se público, também não pode: o dinheiro do povo é para a educação, saúde e segurança, sempre na penúria. Consórcios público-privados são vistos com desconfiança: tem alguém manipulando os contratos. Mas, superado o novo impasse, será que iria adiante?
Talvez não: vem a vaidade política. Quando um administrador, ou partido, é o beneficiado institucional do empreendimento, todos os demais travam o processo. Ainda há a desconfiança sobre a lisura e a pertinência da iniciativa. Caso alguém resolvesse fazer no peitaço, haveria o risco de um bondinho estático, dependurado, para fazer par com nosso “aeroimóvel”.
Pois, aqui, ao invés das obras, são os projetos inconclusos que completam 25, 50, 100 anos. Preciso citar exemplos? Esperança: descermos já do bondinho travado da discórdia e tomarmos a via das necessárias realizações.


2.11.12

Surpreenda-me

Número 497

Rubem Penz

Surpreenda-me. Foi o que ela disse ao se despedir apressada. À noite comemorariam mais um aniversário do casal e, ano após ano, esse era seu único pedido: surpreenda-me. Mal ela sumiu para dentro do elevador, ele deixou o corpo escorregar com as costas apoiadas na moldura da porta até ficar de cócoras. Mãos na cabeça, cabelo entre os dedos, longo suspiro. Era uma segunda-feira. Sete e meia.

Enquanto trabalhava, ele passou a manhã pensando no assunto. Lembrou-se da vez em que a levou para fazer um piquenique em um descampado na cabeceira da pista do aeroporto. Entre o sanduíche de atum e o iogurte natural com canela, o rugir furioso e prateado das aeronaves tirando fininho. A toalha de mesa sobre a relva se transformou em lençol ao cair da tarde.

Ela passou a manhã envolvida com a análise final de um contrato que seu chefe assinaria no dia seguinte com os chineses. Culminância de quase dois anos de trabalho, três viagens internacionais, várias passagens por Brasília (com direito a sentar com ministro de estado), inúmeras caixas de remédio para enxaqueca.

À tarde, na pausa do café, ele se recordou de quando vendou os olhos dela e a fez adivinhar cada um dos dezessete sabores de uma sorveteria. Em cada acerto, um beijo demorado até a boca ficar quente outra vez – era a vez dele fazer a contraprova. Chamaram tanta atenção dentro do shopping que o gerente nem cobrou a fatura – ficaria por conta da multidão que juntou em roda, todos comprando sorvete. Rendeu até matéria de jornal. Ele guardou o recorte em algum lugar. Onde mesmo?

À tarde, foi ela a encarregada para a coletiva de imprensa. Diante das câmeras e dos gravadores, duelou com deputados que pareciam mais preocupados em auferir vantagens políticas e pessoais sobre o grande negócio que estava por ser firmado. Por vezes precisou segurar a raiva ao escutar loas ao papel do Executivo na transação. Como a criança é bonita, todos querem ser o pai.

Quando a noite chega, ele deixa com o porteiro do prédio um envelope contendo um endereço e o recado "vá de táxi". Diz ao rapaz que apenas entregue a ela sem dizer nada, é surpresa.

Quando a noite chega, ela voa para Brasília urgentemente. Avisa por mensagem eletrônica – surgira um impasse. Prioridade máxima.

Ninguém resta surpreendido.

 


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